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Bartonelose felina e canina

Bartonelose felina e canina

Quando lemos, ouvimos ou conversamos sobre doenças transmitidas por artrópodes, especialmente por carrapatos, os principais temas discutidos são as erliquioses (causada por Ehrlichia canis), anaplasmoses (Anaplasma platys), ou babesiose (Babesia canis vogeli), algumas vezes até mesmo as hepatozoonoses (Hepatozoon canis) ou rickettsioses (Rickettsia rickettsii). Estas infecções são muitas vezes denominadas genericamente como a “doença do carrapato”. São vários os agentes transmitidos por carrapatos, mas em especial, neste primeiro artigo, conheceremos outro importante agente de importância em saúde única; as infecções causadas pelo gênero Bartonella.

O agente e sua transmissão

O gênero Bartonella pertence à família Bartonellaceae; são pequenas alfaproteobacterias Gram-negativas e hemotrópicas. São fastidiosas, crescem lentamente em meios de cultura convencionais e são consideradas intracelular facultativa. As bartoneloses são relatadas em todo o mundo, e grande variedade de hospedeiros naturais são descritos, entre eles mamíferos, aves e répteis. Entretanto, na última década crescente números de relatos são publicados mundialmente envolvendo infecção e doença em cães e gatos. Infelizmente algumas espécies do gênero Bartonella que infectam cães e gatos são associadas a infecção e doença em humanos.

As espécies mais relevantes associadas à infecção em cães e gatos são: Bartonella clarridgeiae, B. henselae, B. quintana e B. vinsonii Berkhoffii. Gatos são reservatórios primários das espécies B. clarridgeiae e B. hanselae. Cães são reservatórios primários das espécies B. henselae e B. vinsonii Berkhoffii. Segundo a literatura científica, o homem e o roedor Meriones lybicus (gerbil) são reservatórios da B. quintana.

As bartonelas são transmitidas por artrópodes, principalmente pulgas e carrapatos. Bartonelas presentes em hemácias são ingeridas pelos artrópodes quando estes parasitos se alimentam do sangue do hospedeiro. As bartonelas são eliminadas nas fezes das pulgas, e durante a infestação o animal durante o ato de coçar acaba inoculando a bactéria na pele. A inoculação pode ocorrer também por arranhadura dos gatos, pois as unhas podem estar contaminadas pelas fezes de pulgas. Este tipo de inoculação é a forma mais frequente de infecção para o homem, inclusive a doença em seres humanos é conhecida por “Doença da arranhadura do gato”. Carrapatos também são associados a infecção por bartonela nos cães, embora não esteja ainda bem caracterizado como esta infecção ocorre, se por inoculação do agente pela saliva do carrapato ou se por arranhadura durante a coceira provocada pelo parasitismo (neste caso considera-se que as bartonelas são eliminadas junto as fezes dos carrapatos). A transmissão tanto em gatos como cães pode ser também desencadeada por transfusão sanguínea.

Patogenia, sinais clínicos e diagnóstico

As bartonelas iniciam a infecção após a inoculação na pele do animal, colonizando a porta de entrada do hospedeiro. Em seguida tem acesso a corrente circulatória onde colonizam células do endotélio vascular, hemácias e macrófagos. Parede de vaso sanguíneo de diferentes órgãos podem ser acometidos. As bartonelas desencadeiam lesões vasoproliferativas, por exemplo a espécie B. vinsonii berkhoffii induz a produção do fator de crescimento endotelial, o que ocasiona as lesões vasoproliferativas que podem evoluir para angioendoteliomatoses ou tumores endoteliais.

O Quadro 1 apresenta os principais sinais clínicos das principais bartonelas de cães e gatos.

Espécie

Cães

Gatos

Humanos

B. hanselae

Endocardite, epistaxe, febre, hepatite granulomatosa, hiperglobulinemia, anemia, linfoadenomegalia, trombocitopenia e lesão vasoproliferativa.

Endocardite, epistaxe, febre, hepatite granulo-matosa, hiperglobuli-nemia, anemia, linfoadeno-megalia, tromboci-topenia e le-são vasopro-liferativa.

Anemia, endocardite, endomiocardite, miosite do diafragma, fibrose endocárdica, eosinofilia, febre, letargia, hiperglobulinemia, linfoadenopatias, diferentes graus de doença oftálmica, trombocitopenia e sinais neurológicos.

Anemia, endocardite, endomio-cardite, miosite do diafragma, fibrose endocárdica, eosinofilia, febre, letargia, hiperglobu-linemia, linfoadeno-patias, diferentes graus de doença oftálmica, trombocito-penia e sinais neurológicos.

Artralgia, endocardite, eritrema, hepatite granulomatosas, nódulos pulmonares, uveíte, tumor vasoproliferativo e doença da arranhadura do gato.

Artralgia, endocardite, eritrema, hepatite granulo-matosas, nódulos pulmonares, uveíte, tumor vasoproli-ferativo e doença da arranhadura do gato.

B. vinsonii
berkhoffii

Anemia, arritmia, endocardite, epistaxe, febre, linfadenite, miocardite, poliartrite, trombocitopenia e uveite.

Anemia, arritmia, endocardite, epistaxe, febre, linfadenite, miocardite, poliartrite, trombocito-penia e uveite.

Fibrose endocárdica, esteomielite.

Fibrose endocárdica, esteomielite.

Endocardite.

Endocardite.

B. clarridgeiae

Endocardite e hepatite.

Endocardite e hepatite.

Subclínica.

Doença da arranhadura do gato.

B. quintana

Endocardite.

Subclínica.

Endocardite, febre, angiomatose e problemas oftálmicos.

O diagnóstico definitivo é o isolamento por métodos de cultura microbiana convencional, entretanto pelo seu comportamento fastidioso, o resultado da cultura bacteriana por demorar mais de uma semana, o que inviabiliza este procedimento diagnóstico. Por isso, o diagnostico definitivo tem sido realizado por meio da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR). Métodos mais sofisticados de biologia molecular como PCR em tempo real, ou qPCR traz resultados mais satisfatórios. O protocolo de qPCR desenvolvido pelo Centro Diagnóstico VetVida para o diagnóstico de Bartonelose canina e felina é um método sensível para detectar o agente na corrente circulatória. A reação é capaz de detectar < 5 copias do gene nuoG por µL, o que corresponde a poucas unidades formadoras de colônia por mL de sangue. Ou seja, a qPCR é um método rápido e sensível para detectar o agente em amostras de sangue.

Tratamento

O tratamento específico é baseado na terapia antimicrobiana normalmente realizada por associações de antibióticos como para:

Cães: Doxiciclina/Sulfametazole-trimetoprim, Doxiciclina/Enrofloxacina, Doxiciclina/Rifampinica e Amplicilina/Enrofloxacina;

Gatos: Doxiciclina/Azitromicina, Marbofloxacim/Azitromicina, Amoxicilina-Ac. Clavulânico/Azitromicina.

A escolha da melhor associação deve ser prescrita pelo Médico Veterinário conforme a apresentação clínica do paciente e do sistema envolvido.

O controle de ectoparasitos ainda é a melhor forma de prevenção.

Bibliografia consultada:

André MR, Dumler JS, et al. 2016. Assessment of a quantitative 5′ nuclease real-time polymerase chain reaction using the nicotinamide adenine dinucleotide dehydrogenase gamma subunit (nuoG) for Bartonella species in domiciled and stray cats in Brazil. J Feline Med Surg. 18:783-90. doi: 10.1177/1098612X15593787.

Álvarez-Fernández A, et al. 2018. Bartonella infections in cats and dogs including zoonotic aspects. Parasit Vectors. 4;11(1):624.

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